segunda-feira, maio 05, 2008

Trem

Um pouco antes de me mudar para São Paulo, quando estava fazendo entrevistas e talz, tinha que ir da USP até um lugar na Berrini e foi a minha primeira experiência com o trem urbano.
Sempre que pensava em trem vinha a imagem da Fepasa de Campinas ou o passeio na Maria Fumaça, bancos de madeira, “piuíiiii”, maquinista, fumaça...essas coisas.
Fiquei meio desconfiada, e perguntei para minha amiga Aninha: “O que rola com esse trem?” e ela: “Ah, é só um metrô mais lento”. E eu, morrendo de medo de andar em SP sozinha, de me perder e talz, ainda tinha que pegar essa coisa. A Aninha me fez um super mapinha e lá fui eu. Apesar do cheirinho (nada agradável) do rio Pinheiros na estação Rebouças, não tive grandes traumas com ele não.
Durante um ano fui do trabalho para a facul, sempre saindo estrategicamente depois das 19hs e tudo corria bem.
Tempos depois fui morar em Santo Amaro, local escolhido a dedo, exatamente porque era perto da Estação (de trem e de metrô), minha amiga Léia, assim que mudamos falou: “ Olha, se você pretende ir pegar o trem é melhor ir para a outra Estação, porque em Santo Amaro ninguém entra.” Eu, meio sem entender...apenas acatei o conselho.
Primeiro dia indo para trabalho e...MEU DEUS!!! O que é aquilo nos horários de pico?? Só vendo para acreditar. Pessoas correndo as escadas para chegar à plataforma, a essa altura, já abarrotada de gente, daí você pensa: “ Estão correndo para pegar o trem ué”. Não, nada disso, o trem ainda nem está lá, mas mesmo assim elas correm. É pão de queijo (fedido) de um lado, tapioca do outro, perfume, cheiro de roupa guardada, pessoas amontoadas, um horror.
Ok, agora lá vem o trem, e logo as pessoas já começam a se agitar. “Será que é o de porta vermelha ou o de portinhas?”. E você se pergunta, qual a diferença? A diferença é: cada um para em um lugar, e se você não se posicionar estrategicamente, bau, bau, filhão, vai ter que esperar o próximo.
Empurra daqui, empurra dali, aperta, aperta e ufa, entrei. Esmagada pressionada contra o vidro tentando colocar o pé no chão, não meter a mão na cara da mulher que está do lado, não deixar aquele cara com uma cara estranha me enconchar e respirar...Respirar no trem lotado é uma dádiva divina. É preciso levantar bem a cabeça para conseguir extrair um pouquinho de oxigênio daquele cheiro de mofo do ar condicionado. (Mas glória ao pai que quando ele está ligado).
Não bastasse a patifaria do aperto pago por R$2,40, ainda temos que agüentar a música clássica de laboratório azucrinando a cabeça no meio do falatório, gritaria, apitos de portas que não fecham e reclamações.
Ah, as reclamações!! Não é que o povo não tenha o direito de reclamar, ao contrário, só assim algo pode mudar, mas AAAAAAAAAAAA, lá pela terceira estação não dá mais para suportar o mesmo blábláblá...” Isso é um absurdo”, “É e ainda temos que pagar caro por isso”...
Não dá!!!
“Estação Granja Julieta!” Cara, de Santo Amaro a Granja Julieta, no calor da lotação, é um calvário, nunca duas estações foram tão distantes uma da outra. Essa semana um pobre tiozinho tinha que descer ali e só conseguiu a proeza de sair 3 estações depois.
Não,as pessoas não sabem respeitar o fluxo de entrada e saída. NUNCA esperam as pessoas sair para entrar! E eu fico P* com isso, tipo, tem uma setinha do lado direito escrito saída e uma outra do lado esquerdo com um sinal para não passar, não é difícil, um lado entra e o outro sai, mas NÃAAAAAAAAAAO! Para que simplificar se ficar se apertando é muito mais gostoso!! E os corredores?? Nem deviam estar ali...porque ninguém nunca usa mesmo! A porta é muito mais legal, ficar ali, empacando a vida alheia, e assim...ninguém entra e ninguém sai...Uma coisa linda, linda, linda!
No fluxo contrário. “ Estação Santo Amaro”, 18hs da tarde. Abrem-se as portas, agora os empurrões são para sair...todos correm e sobem as escadas ensandecidos, o tremor é tão grande que ainda tenho medo daquelas escadas desabarem. O destino? O metrô que leva o nada ao lugar nenhum, a linha lilás. Campo Limpo, Capão Redondo. Lá sim é comédia.
Lembra do túnel do terror? As pessoas saem gritando, correndo, num desespero que é estarrecedor! Por que, meu deus, por quê?
Pegar um lugar melhor na fila do ônibus, chegar mais cedo em casa, ou puro hobby?
Eu acho que é hábito! As pessoas já se habituaram tanto a correr que seguem assim, mesmo quando estão indo para a casa. Toda vez que vejo fico com um comichãozinho dentro de mim...E me controlo para não correr também...rs.A CPTM comprou 4 trens novos, até o final do ano serão mais 3, mas de boa! De que adianta inaugurar estações, trens e o intervalo entre eles ser ridiculamente grandes? Sexta, às 18hs foram 20 minutos, em um dia útil, é uma vergonha!
No trabalho pegar o trem já virou piada! Todo dia alguém conta alguma história que viu ou ouviu falar...Eu tenho várias, mas estou cansada de colecionar esse tipo fatos.
Estou revoltada de pegar o trem lotado TODO dia. Brincadeiras a parte, é uma falta de respeito tremenda!! Do povo com o próprio povo, e do governo com a população.

3 comentários:

Walkiria disse...

hahahaa tô me matando de rir aqui
meu juro, eu garegalhei alto e a Giovana mandou eu ficar quieta
bem estilo Arnaldo Jabor
crítica realista e irônica...amei!!

Beijos

ps. pronto comentado sua pidoncha!

Léia Carvalho - LC disse...

Dolorosamente real rs
Ensaiei escrever esse texto varias vezes, mas esse era seu mesmo, ficou ótimo. Terrivel e a realidade, ter que viver isso é fogo.

Liginha disse...

Exatamente isso que eu queria dizer, mas sobre o busão que eu pego pra ir pra facul... Hehe.
E olha que nem é tão longe assim (moro também na Zona Oeste) mas continuo levando 2h pra chegar na ECA.
Mesmo quando o ônibus/trem não está cheio, as pessoas continuam correndo e, se forma uma fila, ficam com aquela mãozinha nas nossas costas empurrando... Como me irrita isso.