sexta-feira, agosto 29, 2008

O que importa?

Caso I
Recentemente voltando da facul, na minha rotina diária de usar a volta para casa para me atualizar sobre o que rola nas rádios (dose máxima que consigo suportar) uma música animadinha me chamou a atenção:

“I kissed a girl and I liked it
The taste of her cherry chap stick
I kissed a girl just to try it
I hope my boyfriend don't mind it”
Tradução:
“Eu beijei uma garota e gostei disso
O gosto de seu brilho de cereja
Eu beijei uma garota, apenas para experimentar
Eu espero que meu namorado não se importe”


1ª Reação: “What, what, what?????????? Não acredito no que estou ouvindo!”.
2ª Reação: “Carolina, larga mão de ser idiota. Por que não acredita?”
3ª Reação: “ PQP, quem é essa menina? Deve estar causando frisson na mídia com essa música! Jajaja. A ala conservadora deve estar se contorcendo! Jajajaja. BEM feito.

Caso II
Também na volta para casa.
Eu sentadinha no bus. Noto que o cara que tinha chamado minha atenção na aula por sua calça xadrez (eu amo roupa xadrez) estava em pé ao meu lado.
Ônibus pára no ponto, pessoas sobem, um outro cara gira a catraca e...SMACK. Selinho no da calça.
1ª Reação: “UAL! Corajosos!!”.
2ª Reação: “Corajosos por quê? Cacete, isso não devia ser normal?!”.
3ª Reação: “Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa, por que ainda não é normal?”


Caso III
Novas contratações no trabalho. Entrevistas e mais entrevistas.
- E aí fulana, conseguiu encontrar alguém para aquela vaga?
- Mais ou menos. Tenho duas opções. Mas uma delas é da sociedade.
“Sociedade? Será que ele é rico?”.
- Como assim?- digo.
- É que ele é da Sociedade do Anel.
Sociedade do Anel= Autodenominação dos meninos gays do trabalho.
- Ahhhhhhh.
“Como assim? Como assim? Não estou acreditando no que estou ouvindo. Não quer contratar porque ele é gay? Não, não. Devo estar bem louca. Não pode ser”.


Caso IV
Uma pergunta infeliz.
- Você é gay?

Tenho me deparado recorrentemente com este tema e ando me incomodando com ele. E é este incômodo que me intriga e me incomoda ainda mais.
A orientação sexual de uma pessoa afeta em quê o nosso sentimento por ela ou o papel dela na nossa sociedade?
Se ninguém contesta a vida sexual de um hetero, porque se contesta a daqueles que não o são?
Como pode o preconceito surgir de uma coisa que é tão pessoal e tão íntima de cada um?

Coisa do demônio.
Contra a natureza.
Doença.
Desvio de caráter.
Deficiência hormonal.
É uma opção, uma escolha.
Não, não é opção, a ciência explica, nasce com a pessoa.


Explicações e mais explicações. Estudos, debates, discussões, grupos de apoio, movimentos, muita coisa surgiu tentando trazer um consenso, mas de verdade, o que importa de onde vem?
Se uma pessoa querida se relaciona com meninas, com meninos ou com ambos, que diferença isso faz para mim?
E por que, em geral, faz tanta diferença para a sociedade?
Que tipos de valores se podem relacionar com a orientação sexual de alguém?

Ser a, b ou c o torna:

Mais ou menos inteligente?
Mais ou menos agressivo?
Mais ou menos sensível?
Mais ou menos gentil?
Mais ou menos capaz?
Mais ou menos equilibrado?
Mais ou menos saudável?
Mais ou menos feliz?
Mais ou menos importante?

Manchetes:
“População desaprova beijo gay e autor muda o final da novela.”
Que hipocrisia é essa?
O mocinho e a mocinha podem aparecer em cenas de sexo pelo menos uma vez a cada semana, expondo seus corpos e sua sexualidade para toda a família brasileira que os assiste sentada no sofá de seus lares sagrados, mas um homem demonstrar afeto pelo outro através de um simples beijo não pode!

“Casal gay comemora adoção de menina em SP”
Por que a polêmica? Duas pessoas cheias de afeto querem constituir uma família e dar muito amor e suporte para alguém que por n motivos foi abandonado.
Atitude nobre para os heteros, não é? E para os gays não vale?

“Presidente da Parada critica "homoportunismo".
A Parada Gay, evento máximo do orgulho gay no Brasil, já sofre com a inversão de seu propósito. No país em que de diz que tudo acaba em festa, a Parada acaba não fugindo a essa máxima, porém, no sentido pejorativo da expressão.

Minha intenção aqui não é levantar bandeiras deste ou daquele movimento. Esta não é uma situação daquelas que escolhemos o lado em que estamos. Isso seria, no mínimo, parcial demais.
Quero apenas chamar atenção para um modelo, que, para mim, deveria ser a máxima da humanidade:

- Acima de raça, cultura e nacionalidade devemos nos posicionar como seres humanos sem fronteiras, que têm compromisso vital de proteger a espécie humana e o meio ambiente;
- Lutar contra toda forma de discriminação e apoiar toda forma de inclusão;
- Respeitar os diferentes;
-Promover a interação entre povos e culturas de diferentes culturas e crenças.


Corro o risco de soar um pouco piegas, ainda mais ao dizer que quem disse isso foi um cara chamado Jesus.
Aqueles que me conhecem sabem que dificilmente levantaria bandeiras para esta ou para aquela religião, não se trata disso.
Lendo um livro me deparei com este modelo e me fez todo o sentido.

Faz algum sentido para você?

2 comentários:

Léia Carvalho - LC disse...

por hora: UAL!

Maria disse...

Sim sim. Porque algo tão comum e verdadeiro se transforma em atração de circo?
No fundo, até quem não devia tem medo de ser o que é.