Tem uma personagem do filme “Do que as mulheres gostam” que sempre me vem à cabeça.
A menina das pastas.
Diariamente, ela segue sua rotina de entregar as pastas com as correspondências para cada funcionário da agência.
Tudo segue “normalmente”, até que, deprimida, ela decide não mais trabalhar.
Com o passar dos dias, as pastas vão se acumulando sobre a mesa, se acumulando, se acumulando, até que finalmente, as pessoas se dão conta que ela não está mais na empresa.
Esta semana algo semelhante aconteceu no trabalho e confesso que me assustei.
Fim do dia, e estava eu precisando desesperadamente entregar um relatório para um cliente, quando pensei:
“Putz, preciso de fulano para colocar isso no arquivo”.
Fulano= Cara do BI (Business Intelligence) = Nerd que coloca mil dados em um Excel cheio de gráficos e macros, que te deixa de boca aberta pensando “Caralho, dá para fazer isso nessa coisa?” e te faz sentir um nada.
Busquei-o com o olhar da minha baia e não o vi. Levantei, fui até o seu lugar. Não estava.
Eu para a pessoa que senta ao seu lado:
- Fulano está aqui?
- Mmm, não vi.
Eu para a pessoa que senta a sua frente:
- Você viu fulano hoje?
- Sabe que não!
Eu para a pessoa do RH, também a sua frente.
- Fulano não veio hoje?
- Caramba, não sei, ainda não o vi.
Bizarro!
Cinco horas da tarde e ninguém, ninguém havia se dado conta que o cara não tinha ido trabalhar.
E eu só notei porque precisava dele.
30 segundos de reflexão e me dei conta que praticamente todas as vezes que dirige a palavra a ele foi porque precisava que me ajudasse com algo.
“Fulano, como eu faço isso?”.
“Fulano, você passa ao lado do Shopping tal, né? Pode me dar uma carona?”
“Fulano, precisamos deste relatório para hoje, ok?”.
Neste momento, senti vergonha de mim.
Não sou muito sociável no trabalho, nem na faculdade, pensando bem, nem em lugar nenhum para falar a verdade. Rs
Não sou daquelas que chegam a um lugar e logo tem um milhão de amigos, sabe? Que conversa com todos, faz amizade até com o porteiro do prédio ao lado e este tipo de coisas.
Ao contrário.
Não sou mal-educada, isso também é verdade. Mas geralmente, falo só o estritamente necessário.
- Bom dia.
- Bom dia.
- Boa noite.
- Boa noite.
Seletiva é a palavra?
Não, é chata mesmo! Chata, muito chata, quase que nem eu mesma me agüento de tão chata que sou. Rs
Enfim, sempre me vi como a própria “menina das pastas”, quase que imperceptível, cumprindo minha função na escala de produção dos Tempos Modernos.
Mas neste momento percebi o quanto nossa conveniência tem o poder de multiplicar esta personagem, ao melhor modelo de uso do século 21.
Como assim?
Produtos descartáveis, gente descartável.
Usou, jogou fora.
Sim, é assim mesmo.
Sabe quando a gente encasqueta com uma coisa e ela passa a ser nossa própria razão de viver?
Procuramos saber tudo sobre ela, pesquisas, livros, sites, investimos até a última gota de energia para internalizar 100% do que nos chamou a atenção.
Mas daí a noite chega, outro dia também chega, a gente acorda e PUFF... “passou!”.
Lembra-se daquela coisa?
“Não, não lembro, o que era mesmo?”.
De coisa para gente é um pulinho.
Se preciso de ti te tenho fresco na memória, tão fresco como pão recém saído do forno.
Mas....
Todo pão fresquinho um dia vira pão adormecido.
E, rejeitado, vai para o saco, jogado displicentemente junto com seus iguais, esquecido no fundo do armário.
E assim sucessivamente, no melhor estilo padaria mesmo, compramos novos pães e muitos outros vão para o saco.
Começo a ficar um pouco assustada com a quantidade de pães que temos acumulada no armário e penso que já é tempo de começar a fazer torradas.
3 comentários:
Concordo que precisamos de mais torradas, talvez até, quem não dê para torrada, possa servir de farinha de rosca.
Só não sei se as pessoas não queiram deixar de ser nossos pãezinhos. É uma forma de fazer inúteis sentirem utilidade. Falo isso como toda boa e qualquer Maria - pão fresco na mesa de alguns, pão mofado no armário de outros.
Em verdade vos digo (prepotente sim), "Por favor" e "Obrigado" são essenciais para não jogarmos fora nossos pães já conquistados, o resto vem...
Penso várias coisas sobre isso VAAAAAARIAS. Uma delas é que o pão endurece e os dentes ficam sensíveis com a idade... Um velhinho tem dificuldade de comer pão Italiano dando mordidas, talvez tenhamos que aprender a cortar com as mãos e só depois mastigar....
As vezes é necessário comer alface...
(ADOREI A NOVA COR ESSA SIM É LEGAL)
Gostei......Interessante!!!
Não vou esquecer de add esse Blog na minha listinha rsrs
só pra mim fuçar de vez em qd.
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