segunda-feira, setembro 29, 2008

Ilusão

É, mas não é teu.

Um dia pode até ter parecido ser, mas o que não sabias é que o mago feiticeiro havia colocado lentes em teus olhos, e que controlava tudo aquilo tu vias, e que acreditavas que a ti pertenciam.
Como um tolo propagastes por aqui e por ali: ― Vejam todos o que tenho! São meus, todos meus!
Tomado por uma euforia inebriante, saltivas pelo mundo, carregando contigo, ainda que em pensamentos, teus estimados bens. O porto seguro do marinheiro, a casa em terra firme.
Mas o que por trás do vidro havia não passava de ilusão, doce e mágico experimento do grande mago, que apenas demonstrava para o novo discípulo, como a debilidade do homem o deixa vulnerável até para o mais simples dos feitiços.
― Pensa o homem que sem posses é um homem sem valia- explicava pacientemente.
― Quando damos a ele algo para chamar de seu, lhe damos um valor perante aos outros homens. Por isso é tão fácil manipulá-lo. Mas não brinque com esta fraqueza, a posse não existe e, é triste vê-lo tão enganado com algo fadado a um fim precoce.
E neste momento, tirou as lentes que sobrepunham teus olhos e sentiste tua fortaleza desabar, tua não, mas a que ele havia criado para ti.
― Não é possível que tudo o que tenho é falso- contestate- Sem o MEU tesouro, o que resta para mim?
O mago olhou para o discípulo, fez um suave movimento com a mão e disse:
― Tome, entregue isto para ele.
Obediente, cuidadosamente observou o papel e leu em voz alta:

― A posse é efêmera. Tua fortaleza está em ti.

Satisfeito, o mago sorriu.