Existe um mundo paralelo, um mundo que muitos almejam, um mundo onde poucos, muitos poucos estão, um mundo que não quero para mim.
Final de semana com amiga de fora em casa, amiga que pertence a este mundo e que dele não quer sair.
São Paulo tem o Museu do Ipiranga, o Terraço Itália, o Teatro Municipal, o Mercado, a Pinacoteca, o Zoológico, a Av. Paulista, estes e muitos outros lugares para turistas e não turistas ver.
Sexta-feira- a escolha? Shopping Market Place.
Durante a espera, casais, crianças correndo para cá, crianças correndo para lá, e não pude evitar lembrar um comentário que uma amiga me fez recentemente e que me assustou profundamente.
− Elas correm e os pais não se preocupam porque este é o quintal da casa delas.
Meus deus! Como o templo do consumo pode ser como a casa destas crianças? Mas é. Final de semana e poderiam estar sujando a roupa andando de bicicleta, brincando de pega-pega ou fazendo coisas que qualquer criança faz para se divertir, mas o vizinho é de concreto e muito mais atrativo, então, por que não deixá-las arrumadinhas, aprendendo desde cedo o melhor lugar para comer e comprar? Estranho...
Depois....
Comida boa, companhias agradáveis, muitas risadas.
Sábado- O que quer conhecer?- pergunto.
− Ah, não sei, o que tem para fazer?- responde a amiga.
Dou todas as opções citadas antes e...
− É que de verdade estou com preguiça, é longe, né?
“ Tudo em São Paulo é longe...”
− Ah, então vamos só comer e ver um filme.
− Ok, onde?
− Preciso comprar um vestido, podíamos ir a um Shopping e fazer tudo ali mesmo, o que acha?
“ Ah, nãaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaao!”.
Shopping Iguatemi, lá vamos nós.
Um trajeto que nos custaria no máximo R$2,40 cada de bus, sai por umas 30 vezes mais. Mas nada como o conforto de um táxi. Não é mesmo?
Juro que não consigo entender como as pessoas podem achar graça em ficar andando de um lado para o outro, muitas vezes, sem a menor intenção de comprar.
Enfim, não suporto Shoppings!
Procura vestido daqui, procura vestido dali, entra em uma, duas, três, quatro, muitas, muitas lojas e nada.
A cada nova loja as etiquetas pareciam aumentar. 500, 1.000, 2.360 reais? O quê?? O quê??? É só um pedaço de pano e feio ainda por cima! Senhorrrr!
Já exaustas, desistimos do cinema, compramos filmes e voltamos para casa. UFA!
A escolha não podia ser mais perfeita para o momento: sábado à noite, frio, chuva incessante e dois filmes tipicamente femininos.
Depois de querer me jogar prédio abaixo com o primeiro, o segundo era propício: “O diabo veste Prada”.
Até a “feinha”, “desajeitada” corrompida pelo glamour do mundo fashion e dos estilistas renomados?
“Ahhh, não, aaah, nãoooo! Preciso dormir!”.
Domingo.
Convite de outra amiga para almoçar. Onde? Onde?
Shopping Cidade Jardim, claro!
O templo mor da cidade de São Paulo, onde só os funcionários entram a pé e que uma simples voltinha para conhecer o novo “point” não sai por menos de R$40,00.
“O que estou fazendo aqui?”.
Almoço na Casa do Saber pensando “ai que saudade da comida da minha mãe”.
Sessão de meninas no cinema.
− Novo filme do Richard Gere?
“Ai meus hormônios!”.
− Ok!
− Acho que deve estar passando na sala VIP- diz a amiga.
“Aquela das poltronas reclináveis, master confortáveis, da pipoca com azeite trufado levadas até o seu lugar e que custa duas vezes mais que uma sessão normal??????”
− Tudo bem- Sorrio amarelo.
Mas o lado bom de ter amigas de um mundo paralelo é não gastar um centavo no próprio bolso e lá fomos nós.
− Este é o máximo de um domingo à tarde para mim- diz a amiga, ajustando sua poltrona.
Não dá para negar que é o máximo realmente, tudo que você sempre quis em um cinema é esticar a perna confortavelmente como se estivesse em casa. Mas será que vale tudo isso mesmo?
O filme? De chorar até morrer e de sair querendo dizer “eu te amo” para todo mundo que realmente importa na sua vida, antes que não estejam mais aqui para isso.
Anda, anda, anda, anda, anda, anda...
Lojas, lojas, lojas, lojas...
Amiga compra, compra, compra...
Eu sentada esperando, pensando “ai podia estar tomando um cafezinho, dando risada de boa nessas horas”.
Pessoas passam, casais passam, gringos passam, muita gente passa.
Daslu homem, Daslu mulher.
Valentino R$4.600,00 reais “não é aquele estilista do filme de ontem?”, sapato x R$2.600,00, camisa branca básica R$350,00 “Nossa, a Tantan faria uma dessa por menos de trintinha, fácil”.
− Ai, porque só vou vir aqui agora, não podia ter encontrado ela aqui- passa a mega patilene falando para amiga sobre a gerente da loja.
Não consigo conceber uma pessoa toda by Daslu, é muito para minha pobre, literalmente pobre, cabeça.
“Quero brigadeiro de panela”. Eu olhando para o manequim. “Na minha casinha”.
Para terminar.
− Vamos entrar na Tiffany, nunca entrei em uma- a amiga novamente.
− Ok!
− Olha, com este anel poderia comprar 3 carros do que você quer- digo.
− Fiquei deprimida agora, vamos sair daqui- responde a amiga.
É, este é um mundo ainda mais restrito.
Balanço do final de semana:
- É muito bom estar com gente que a gente gosta, mesmo quando essa gente é de um mundo diferente e quer visitar lugares de seu mundo.
- A futilidade e superficialidade deste mundo me assusta cada dia mais.
- Nada como as coisas simples da vida para te deixar feliz. O resto, é valor, nem sempre, agregado.
- Tudo sempre tem um contraponto.
Um comentário:
Acho que tudo isso serve para mostrar que somos simplesmente humanos. Humanos e simples são coisas que não combinam, a complexidade de nossas mentes é algo absurdo e capaz de enlouquecer a nós e aos outros.
Humano, demasiadamente humano.
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