Dizem que para quem fuma crack uma única vez é o bastante para viciar.
O pobre dependente, presa da sua própria fraqueza, doa-se por completo em busca daquela sensação única, que segundo ele, somente a droga é capaz de lhe proporcionar.
Ela é a novidade, o alívio maravilhoso a seus tormentos, às suas inquietações.
Ele, estasiado, entrega-se.
Rápida, dispara, afetando seu corpo, sua mente.
Desequilibra.
Como uma infecção generalizada, alastra-se, dominando-o por completo.
Entorpecido pelo falso prazer, não vê que ela, a droga, o enlaça como uma serpente sorrateira, e que paciente, espera para sufocá-lo.
Prepara o bote...
Cruel, ela não se apieda e, com um largo sorriso no rosto, bate à porta para cobrar-lhe cada tragada mágica, cada pedra queimada, centavo por centavo, sorriso por sorriso, viagem por viagem, neurônio por neurônio.
Sem nada entender, ele, o dependente, permanece ali, inerte; enquanto ela o esbofeteia, chacoalha, querendo mais, sempre mais.
Esgota. Ou pensa que esgota.
Satisfeita, cerra a porta.
Estrondo.
Impiedosa, parte para a próxima cobrança. Não, ela não é monogâmica.
Pendurado de ponta cabeça, com o fundo dos bolsos para fora da calça, estremecido e abandonado, ele de repente cai em si.
Deve ser o efeito da súbita oxigenação do cérebro.
Com as mãos sobre a face chora. Destruído, envergonha-se: “Como pude ser tão estúpido?”.
Silêncio, um longo silêncio.
O relógio corre.
Corta as cordas e sente o bater de seu corpo contra o chão.
Arrasta-se.
Lentamente, vai vencendo a dor das feridas para pôr-se de novo em pé.
Alucinações, suor frio, febre, uma angústia que lhe chega as entranhas.
Maldita desintoxicação!
Um, dois, três, quatro...Dias, meses...
E como ainda lhe doem os joelhos!
Marcado, ele, o agora para sempre dependente, reconhece que para perder-se novamente basta uma pedra, uma única pedra.
Ao longe, ecoa uma gargalhada macabra; sobre uma lápide, ela sorri, orgulhosa de sua obra.
Nem todos aprendem a tempo...
Um comentário:
Puts!
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