domingo, agosto 01, 2010

Redescobrindo uma cidade

"Home is where the heart is." 


Durante os últimos quatro anos, São Paulo foi o lugar que acostumei a chamar de lar; parti para realizar o sonho da faculdade e todas as coisas atreladas a ela: trabalho, networking, experiência, crescimento profissional.

Pode parecer estranho, mas na época, deixar Campinas não me doeu, eu tinha muitos sonhos, muitas esperanças, muitas coisas por fazer e descobrir na cidade grande, que não tive tempo de pensar no que ficava para trás.

Olhando para quem eu era antes e para quem sou hoje é absurdamente gigantesco o poder transformador deste período em mim.
Uma amiga recentemente me disse que eu tive que ir para São Paulo para ME descobrir, e depois, refletindo sobre essa afirmação, talvez possa realmente definir essa jornada com a palavra DESCOBERTA.

De cara, descobri que a palavra do paulistano é PRESSA, que todo mundo corre o tempo todo, seja para ir ao trabalho ou ao passeio no final de semana; e que nesse ritmo mais que acelerado, com muito trânsito, transporte público mais que lotado e longas distâncias percorridas diariamente, sobra pouca qualidade de vida e que ela faz falta.

Descobri que para se morar junto é preciso ter maturidade e que rotinas bobas e obrigações, quando não bem administradas, podem matar sentimentos belos como o carinho e a amizade; mas que compartilhar o mesmo teto é também compartilhar vidas.

Descobri que preciso de um espaço para chamar de MEU; um lar para decorar e receber, mas acima de tudo, para um canto para repousar.

Descobri que apesar de me considerar uma profissional competente, a área que escolhi atuar não me faz feliz; que contemplar o dia passar através da janela de uma torre empresarial me angustia e não é onde quero estar.

Descobri que afeto não depende de idade, cor, sexo, nacionalidade ou naturalidade; que o amor nasce entre pessoas, sejam elas quem for.

Descobri que posso amar, e que amor não correspondido maltrata, machuca; porém que independente do desfecho, as relações são aprendizados e sempre nos ajudam a amadurecer um pouco mais para o próximo encontro.

Descobri que não gosto de crianças genericamente, mas que algumas têm o poder de me derreter completamente e são verdadeiros reenergizantes para a alma.

Descobri que a amizade precisa ser cultivada e não cobrada; que é um sentimento suave e sadio; que não depende de proximidade, nem de contato diário e que é a melhor tradução de família e de porto seguro.

Descobri que tudo bem devolver um livro chato para a prateleira; que mudar de opinião é sinônimo de transformação, crescimento e não de fraqueza.

Descobri que dizer “Eu te amo” pode ser fácil, que é importante demonstrar aqueles que lhe são caros o quanto significam para você.

Descobri que existem seres raros no meu mundo, que ainda que diferentes entre si, ficam perfeitamente juntos, numa coisa só, em meu coração.

Descobri que dinheiro traz conforto e tranquilidade, mas que se para tê-lo for preciso abrir mão de seus valores e sonhos, simplesmente não vale a pena.

Descobri que os conceitos de perto/longe, caro/barato são completamente relativos em Sampa, que tudo depende da disposição e da empolgação.

Descobri que 4 amigas e uma garrafa de whisky com água de coco fazem a balada mais divertida que há; que beber demais pode sim provocar apagões mentais e que o tempo, sob este efeito, torna-se incrivelmente relativo, proporcionando baladas com duração de 40 minutos.

Descobri que a vida cultural paulistana é deliciosa e única; que andar no Centro de São Paulo à noite durante a Virada Cultural é o ápice da minha felicidade na cidade; que a Mostra de Internacional de Cinema tem de tudo um pouco; que os shows conectam a música diretamente ao meu coração; que procurando bem, sempre há algo para se fazer, pagando-se pouco, ou nada mesmo.

Descobri que a Av. Paulista é meu lugar preferido da cidade; que os cinemas dali têm os filmes com os quais mais me identifico; que o Reserva Cultural é o melhor lugar para assisti-los; que ficar de bobeira na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, lendo livros de piadas infantis é um passatempo relaxante; que a feirinha do Center 3 tem um colorido singular; que a Casa das Rosas é linda; que os painéis do Hospital Santa Catarina sempre me hipnotizam; que cruzar a avenida de ponta a ponta é um encontro com a diversidade.

Descobri que em meio a selva de pedra existem verdadeiros paraísos verdes como o Parque da Cantareira, do Ibirapuera, da Água Branca, do Trianon e o Solo Sagrado; e que é preciso colocar o pé na terra e desfrutar de um dia na natureza de vez em quando, para nos reconectarmos com ela, e com a gente mesmo.

Descobri que independente de religião ou crenças, preciso de um caminho espiritual.

Descobri que estar sozinha é diferente de ser sozinha, e que a diferença está no auto-conhecimento.

Descobri que a terapia não dá respostas concretas, que o óbvio de tão óbvio pode ser ignorado por tempos a fio, e que enquanto não for percebido os ciclos seguirão repetindo o mesmo disco riscado, indefinidamente.

Descobri que adoro brigar com o universo o tempo todo, e que o medo me paralisa, me impedindo, muitas vezes, de encarar os sinais e mais ainda, de seguir em frente.

Mas depois de tantas descobertas, talvez o mais importante é que descobri que lar é onde o coração está e que o meu já não está mais em São Paulo, há algum tempo.

Nas duas últimas semanas, depois de 4 anos tive as primeiras férias de verdade, aquelas para a qual a gente tem realmente para onde voltar no final, e foi a primeira vez que passei mais que 3 dias na minha cidade novamente.

A idéia era clarear a mente e, como disse anteriormente aqui, descobrir um plano para o segundo semestre. O que não contava, no entanto, era que estes dias de lindo céu azul e vento soprando a todo instante, fossem de tantos reencontros e encontros que me fariam redescobrir um lar em meu coração.

De um destes encontros, onde a indecisão sobre o que fazer se fez latente, uma frase surgiu e ficou ecoando em mim como o canto de Tiê:
“Indecisão é quando você sabe MUITO BEM o que quer, mas acha que deveria querer outra coisa.”

E de repente, me dei conta que assim como O Alquimista, precisei dar a “volta ao mundo” para descobrir que meu tesouro sempre esteve no ponto de partida e que todo este tempo, o medo me impediu de acreditar.

Em dias de muitas coincidências e (re) encontros surreais, ouvi a certeza: “Você vai fazer outro curso e isso é a chave de tudo” de uma forma inusitada e inesperada; que junto com a pergunta singela: “Carol, que curso mesmo você vai fazer aqui na Unicamp? Letras ou Pedagogia?”, me fizeram acreditar que, desta vez, não posso ignorar tantos sinais.

E de tanto apanhar, talvez agora eu tenha entendido que dar um passo atrás poderá significar infinitos passos a frente; e que desta vez, como um balanço de rede, a transição deve ser suave, porém precisa, em busca do meu BEM MAIOR.


2 comentários:

Michelle disse...

Carol!
Quantas descobertas! Que delícia viver tudo isso! Fiquei com uma inveja boa desse caminho todo delicioso vai? Acho que tem certas coisas na vida que embora estejam na nossa frente, do nosso lado, pode até estar no nosso colo [rs] não adianta... às vezes não é a hora de se perceber... Fico (egoísticamente [rs]) muito feliz que vc esteja de volta viu!! Saiba que sempre terá uma amiga por aqui viu!?
E olha, a minha descoberta foi que o shoppinho que eu fui em SP é o Center 3! Lembrei do nome... adorei! [rs]
Beijo grande!

Walkiria disse...

Seu blog está simplesmente fascinating!!! Muito muito mesmo, que fundo de tela perfeito, maravilhoso! Você escreve muito bem...fiquei muito feliz com tudo que li, adoro quando te sinto assim, se dando a chance de mudar...Obrigada por expor tão bem coisas tão bacanas...muitos beijos my friend...