quarta-feira, outubro 01, 2008

Renúncia

Eu, bobo da corte, renuncio.
Confesso, perdi a minha graça.
Não posso mais entretê-los nem fazê-los rir.
A voz aos poucos me abandona, por isso corro para falar-lhes.
Desaprendi.
As cordas entre meus dedos já não se harmonizam e o som que elas criam, acreditem, pode ferir os seus ouvidos.
As palavras antes declamadas também se foram, fugidas com a última caravana.
O rei e sua cara estúpida não mais me inspiram, tão pouco os tolos que o bajulam.
Comunico que não irei à celebração a vossa Majestade, até lá já terei partido.
Das festas só me resta o fim, o triste fim.
− Imprestável- grita um campesino.
“Imprestável!”- digo a mim mesmo.
“Por que se angustia tanto por não mais fazer aquilo que de ti esperam?
Não importa, nada mais importa. Zombem da inutilidade deste ser que sofre. Aproveitem enquanto há tempo.
− Corcunda- grita um outro.
Corcunda que sustenta este corpo desajeitado e que certamente será a única a seguir comigo quando partir.
Agora terão que ridicularizar uma outra anomalia.
Lamento as gargalhadas perdidas, mas vou tomar o meu...

3 comentários:

Maria disse...

O que os outros esperam de nós não importa. O que nós esperamos dos outros, menos ainda. O que esperamos que os outros esperam de nós é o que nos mantém vivos.

Léia Carvalho - LC disse...

tudo é eterno... até que mude.
Va tomar no cú e volte quando quiser para onde quiser.
Para fazer rir ou não.

Vanessa disse...

Nossa..isso me fez lembrar uma aula de 'bufão' q tive na faculdade...fiquei em crise com ele, com o texto...mto forte...
Ahh sim..tb passo por aqui de vez em qdo..rs
beijo.