quinta-feira, março 05, 2009

Cotidiano

Uns dos primeiros posts deste blog foi sobre o Trem. Eu, então morando na Zona Sul de São Paulo, me revoltava diariamente com este meio de transporte nada confortável em horários de pico.


Mudei.


Estou do outro lado da cidade agora: Zona Norte. Mas o destino diário continua o mesmo: Vila Olímpia.

E daí?

Se você conhece um pouco esta selva de pedra saberá que estes dois lugarzinhos estão em lados opostos, e daí que os 40 minutos- sendo 20min de caminhada + 20min de trem- do trajeto de casa ao trabalho se transformaram em 2 horas.
Sim, isso mesmo, 2 horas de ônibus, metrô, ônibus e muito trânsito.

É bem suave...
O primeiro ônibus da ida é sempre muito lotado, mas tudo bem, são apenas 13 minutos até a estação, não dói tanto. Durante o trajeto vou me atualizando sobre o que acontece no mundo, ouvindo a Band News FM, enquanto uma topeira que vai descer no mesmo ponto que eu, já que o destino de 99% das pessoas que estão ali é o mesmo, tenta passar na frente de todas as outras para chegar primeiro até a porta.
Vai entender...

Ao entrar na estação, o relógio aponta 8:06am, é quase cabalístico, se o número for maior que isto ferrou. Perderei o próximo bus certamente. É tudo milimetricamente calculado, um cremezinho ou um celular esquecido na hora de sair de casa podem comprometer tudo.
Antes de morar em Sampa, quando vinha para cá visitar minhas amigas, sempre me perguntava como elas sabiam exatamente onde ficar e em que parte do vagão as escadas ficavam, eu achava aquilo mágico. Mas com o tempo a gente aprende algumas coisinhas.
O painel indica de qual lado sairá o próximo trem- apesar de chamarmos de metrô, lá diz trem, minha amiga Léia sabe a diferença de um e de outro, mas agora estou com preguiça de perguntar, rs-, saio sempre em direção oposta à indicação, porque é para ela que aquelas centenas de pessoas que estão passando pela catraca com você vão correr.
E para o último vagão vou eu, local estratégico para a saída. Um amontoado de gente fica ali, esperando a chegada daquele bicho enorme que sai do buraco para levá-los.

Uma pessoa atrás da outra, como se fosse uma fila certo?

NÃO, nada disso. Você chega educadamente e se coloca atrás da última pessoa que avista, esperando tranquilamente quando um ser vindo do nada se aproxima e se posiciona lá na frente, em primeirão criando uma nova “fila” imaginária, a despeito de quem estava bonitinho, antes dele.
Isso me dá um ódio. Faço uma cara de indignação, mas aparentemente, isso não inibe ninguém.
A entrada é magnífica. As pessoas se movimentam junto com o metrô, tentando “se” encaixar à porta, e aquela pessoinha furadora de fila do mal, quase sempre é a primeira a entrar. Hunf.
Todos se amontoam e aquele infeliz que está ao lado esquerdo de dentro que se ajeite, empurre, grite e tente sair.
Aí vem o mais lindo, o momento baratístico do dia, o efeito Detefon: As pessoas entram, vão para um lado, depois para o outro, giram e só então se sentam ou se dirigem para algum outro lugar, deixando quem está atrás, completamente tonto tentando passar.
Nessa, além de enjoado você ficou sem lugar e o único disponível é aquela coisa cinza, conhecida como assento reservado.
Sentar ali é uma questão de coragem. Apesar de a sinalização dizer que o uso daquele espaço é livre quando idosos, deficientes e mulheres com crianças de colo não estão presentes, é possível sentir o olhar alheio de indignação e repressão ao te ver sentado ali.
A cada abertura de porta rola uma tensão e um olhar atento aos que entram para garantir que você levantará antes de apanhar caso o “dono” daquele lugar adentre.
Algumas estações depois está tudo completamente lotado e você já começa a traçar a estratégia de como ultrapassará todos os obstáculos para ir de onde está até a porta.
Um “licença” aqui, outro ali e aquele maledeto mochileiro- pessoa que anda de mochila nas costas- de fone de ouvido, não te dá a menor pelota e não te deixa passar.
Freio.
Todos para o mesmo lado, desencaixando um pouco e você, com esforço, consegue transpor a barreira dando um “leve” empurrãozinho no infeliz.
Porta!

Acabou?

Não, calma, que pressa é essa? Os porteiros- pessoas que não saem da porta de jeito nenhum, mesmo sabendo que só descerão dali a 7 estações- estão todos ali a sua frente. Sem esboçar o menor sinal de movimentação ao te ver plantada olhando deles para a porta, da porta para eles.
Nessa hora, você apela para todos os santos te controlarem para não sair esmurrando todos e chegar ao trabalho sem antes dar uma passadinha na cadeia mais próxima.
Vencida a segunda etapa, você corre, literalmente, para a derradeira, corre porque o bus está já está no ponto e se você não sair atropelando todo mundo, descendo 2 lances de escada feito louca segurando a bolsa e atravessando a rua, não tão cuidadosamente como deveria, você vai perdê-lo e amargar 30 minutos de espera baixo um sol do sertão.
“Bom dia” para o motorista, “bom dia” quase inaudível para o cobrador-aquele maldito que não te acordou outro dia e fez você ir até o ponto final mesmo quando TODAS, TODAS as pessoas descem no mesmo ponto que você, TODOS OS DIAS.
Lugar cativo de sempre, ao lado do maldito, mas fazer o quê, é o que tem mais espaço para os pés e perfeito para um soninho.
50 minutos de sacode, lotação, calor, túnel, túnel e túnel depois, mais uma caminhadinha rápida e avisto a agência.

Finalmente!

Agora é esperar 6:30pm e fazer tudo de novo, só que ao contrário.
Ai ai...








5 comentários:

Walkiria disse...

Hahahah cara é inacrebeliveble conceber essa rotina! Eu só fico imaginando sabe...como faziamos isso uma vez a cada seis meses em média, até que dava pra suportar, mas TODO dia! I'm really proud of you guys! Nessas horas nem tenho coragem de me queixar dizendo que trabalho em Itu e por isso percorro todos os dias 1 hora dirigindo com música e vento na cara pra ir e o mesmo pra voltar.
Mas adorei, excelente texto!

Cris_do_Brasil disse...

Nossa Miga, desculpe o desabafo - mas que tristeza hein, oxi. Isso parece mais uma pagacao de promessa, e vc segue teu calvário todos os dias, que no total sao 4hs por dia? Afe! Cansei só de pensar.

Morei em SP uma vez durante 1 ano, na época que minha irma casou e foi morar aí. Eu com toda aquela estrutura boa de transporte de Curitiba, quando cheguei a Sampa fiquei eletrocutada na hora, foi um choque!

Aqui ando de metrô tb, e é uma beleza. Claro sempre tem os porteiros (como diz vc), e outros que nem licença pedem! Eu acho isso incrível, que educação, que nada. Que vencam os mais fortes (pra variar).

Olxi que lindo tenho uma fa agora, e sinto-me como vc tb nessa blogosfera, sentada numa rede feito nessa foto com uma brisa fresca no rosto.. humm

Achei vc escreveu super bem esse texto, adoro causos. Nao sei é interpretar poesias, acho difícil.

Um beijo minha rainha tsc tsc

Léia Carvalho - LC disse...

Eu to aqui (quase off e ainda sem almoço) e lendo essa MARAVILHA de texto. A saga é um DESGRAÇA, mas o texto...

ADOREI
Odiaria essa rotina diária nos dias de hoje, mas eu ja tive rotinas bem, bem, bem chatas também.

Fé em Deus e pé na tabua. Bora devanear mais e mais e fazer desse mundo algo mais legal, nem que seja para uns poucos.

PS: escreva mais, vc é chata e isso sempre fica muito bom (rS)

Cris_do_Brasil disse...

Acabei de assistir Quem quer ser um Milionário e minha veia tpm-sábado nao se aguentou na hora que ele finalmente ganhou os milhões...

Esse filme é mais um daqueles que transforma a vida e ajuda entender muita coisa.
Bom findi!

Maria disse...

hahaha ... welcome to the jungle!!!
pois é chuchu... ces't la vie!
eu abdiquei do carro... porque levava tanto tempo quanto possível... eca.